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Kikré Kayapó

O projeto parte do pedido de indígenas de 22 aldeias por casas kuben (homem branco na língua Kayapó) evidenciado em um levantamento feito em 2014 pelo Plano de Apoio à Autonomia do Povo Kayapó, uma iniciativa da Eletrobrás, em conjunto com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a Associação Floresta Protegida (AFP), a partir da indenização de Belo Monte, como parte de seu licenciamento ambiental. As aldeias, localizadas em Terras Indígenas, são territórios remotos, acessados ao longo do Rio Xingu, do Riozinho ou por estradas de terra após quilômetros de grandes fazendas.

O projeto se desenvolve a partir do paradoxo que contrapõe o incentivo à autonomia do Plano, ao desejo de construção de casas que utilizam técnicas e materiais das cidades, solicitadas pelos Kayapós. Fatores como a viabilidade  logística, bem como a criação de uma relação de dependência com a cidade, deflagram-se como grandes desafios a serem enfrentados.

A assessoria técnica propôs trabalhar o desejo por consumo de produtos da cidade através de um processo participativo, que buscou aumentar os canais de diálogo através de diversas representações, como filmes, maquetes, fotografias, e amostras de materiais, valorizando aspectos da cultura construtiva da etnia indígena.  Por meio deste processo foi possível não apenas debater questões de projeto arquitetônico, mas também o que uma determinada escolha construtiva teria por consequência em termos políticos, culturais, estéticos e financeiros.

Além da casa Kuben e da Mebengokré (kayapó), a assessoria técnica propôs uma terceira opção: a casa “kubengokré”. A proposta combinava a possibilidade de  durabilidade e impermeabilidade das casas kuben, desejadas pelos indígenas, com a utilização de técnicas construtivas  simples,  implementadas em  uma volumetria que permite a implantação de diversos materiais, sejam locais, como a palha inajá ou industriais, como a telha metálica para o telhado, por exemplo.

A partir da experiência do projeto, aprendemos a deslocar o sentido da palavra tradição para tratar do paradoxo enunciado acima. Se tradição pode ser entendida como  viver o mundo do seu jeito, e se os indivíduos estão se transformando, logo, o sentido de tradição não é estático no tempo como poderíamos pensar a priori, ao contrário, pode estar em constante movimento. Sendo assim, uma vez apropriados, novos materiais e técnicas construtivas acoplam-se à tradição Mebengokré.

Coordenação geral: Associação Floresta Protegida
Coordenação arquitetura: Estúdio Guanabara e Oikos Ecologia do Habitat
Projeto e acompanhamento obras: Luisa Bogossian, Danilo Filgueiras, André Daemon, Raymundo Rodrigues, Andrea Correa, Júlia Sá Earp, Viviane Martins, Iazana Guizzo, Valentina D’Ávila e Ulisses Oliveira.
Cálculo estrutural: Rodrigo Affonso
Consultoria de materiais: Matéria Brasil e Matéria Base
Localização: Pará
Ano do projeto: 2017-2019